Quando meu tempo chegar
Chegará
o tempo
em que
meu tempo passará.
Ele
virá de súbito
varrendo
a minha sala
rasgando
meus papeis
destruindo
o que criei.
Encontrar-me-á
sobre a cama,
aguardando
por seu beijo.
Assim
chegado o tempo,
não terei
tempo de acenar
adeus.
Amor crucificado
Disse que te amo e, ao dizê-lo
desapercebi da sombra que então espreitava
desejosa de encontrar mente fraca,
travestindo respeito em medo.
Teus olhos me contaram com palavras
motivos para tua decisão:
coisas belas, ingênuas e tolas
justificam tua decisão.
Num pulso de dor, dúvida e paixão
perdi toda cautela,
escrevi nota singela
esqueci-me da repressora religião.
Tu, sabedora do que se passava,
lançou-me o olhar de quem com ouro não se seduz:
"Acredito no teu amor, meu bem,
mas peço que o guarde, pois prefiro a cruz".
Oscuridad (primeira tentativa)
Sozinho parti andando
na estrada da amargura
separado de quem amo
joguei-me de vez na sepultura.
Lá a minha luz se apagou
meus olhos perderam seu brilho
minha mente às trevas se entregou
à dor, à desesperança, ao castigo.
Passei pela porta do temor
recebido por aqueles de tolos amores
cruzando a ponte da morte
devorei (uma a uma) minhas dores.
Fui abandonado na noite mais negra
mais fria, mais feia, mas bela;
duma lua vibrante e cheia
onde sonhos desmancham-se no ar.
Meus fatigados olhos nada enxergam
traves enormes os impedem
as lágrimas que correm pelos vales
não encontram o chão.
Eis que na sombras frias
tuas mãos me alcançaram
alisaram meu rosto de pedra
fazendo-me esquecer meu eu.
Teus olhos, rubis profanos
resplandecem no vácuo do meu rancor
tua escuridão acalma o meu espírito
faz-me descer até tua presença!
Oh, senhor da minha tristeza!
Mestre do sofrimento, rogo-te
em meio às sombras do meu coração
afasta de mim esta esperança!
Oh, Oscuridad, tremendo! Oscuridad!
Recebo a tua divina ira!
Amaldiçoe estas grotescas liras
escureça meu coração!
Em tuas garras ferozes
de derrotados algozes
entrego o que restou de minh'alma
doce ilusão de vida!
Que teus dentes perfurem meu rancor
destruam as entranhas de meu corpo
atire-me no poço da mais profunda depressão!
Não sou mais aquele que via!
Escureça o meu coração, oh, Oscuridad!
Rasgue as veias, as artérias, meus pulmões!
Que teu brilho fosco seja meu manto
que a felicidade torne-se pranto!
Acendi velas para a minha paixão
e teus frios ventos apagaram-nas
e, na loucura de minha mente,
construí o teu altar!
Não me abandones, oh treva suprema!
Afogado em mil lamentos
conheço apenas o que não tenho,
entrego-te o que não resta!
Oh, Oscuridad!
Treva suprema!
Oscuridad!
Postado em 26/03/2014. Nicolas Peixoto.